Réstias

Sabendo haver em mim uma réstia de esperança, caminho devagar, como quem reserva um último trago de forças para o momento final. Sinto-me como um profeta caminhando pelo deserto enquanto espera a aparição. A lua refresca-me um pouco a alma e tudo se torna agora mais claro. Sei porque não morri ainda no outro dia e sei também porque tenho ainda de caminhar todo este Caminho. Este caminho austero.
Fecho os olhos um pouco. Tomo um gole de água e respiro de novo. Torna-se cada vez mais dificil imaginar como estará ela agora. Veste-se de branco. Um branco cheio de Sol e de Lua e que inebria. Sou livre. Hoje sou verdadeiramente livre e por isso caminho por este Caminho. Creio que se levanta uma aragem para os lados do mar. Cada vez menos estrelas. O Sol começa a raiar e imagino que talvez seja a hora de descansar um pouco às pernas daquele sobreiro.
Tenho medo de fechar os olhos agora. Tenho muito medo querida. Sei que esperas por mim e por isso tenho medo. Quantas vezes falamos nós sobre este momento? Tu bem sabias que eu era assim, um rebelde por dentro. Um corpo e uma alma que corre, que corre para ti até chegar lá, bem fundo.
As estrelas. Vejo agora as estrelas de novo. Fecho o meu olhar então. Tenho medo. Este medo terrível de te encontrar entre as nuvens, perdida algures.
Tenho medo e vejo as estrelas. A lua aqui.

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26 Abril 2008